Importante via que atravessa as vilas Maria Adelaide, Euclides e Anita, até atingir a altura do núcleo DER, a Avenida Senador Fláquer tem origem anterior a esses lugares. Existem referências a ela já com esta denominação e com a mesma trajetória atual desde pelo menos 1927, data em que ela aparece sozinha em um antigo mapa dos arredores de São Paulo (1), ocasião que nenhum dos loteamentos supracitados tinha se iniciado de fato. Possivelmente ela tenha um surgido no século anterior, como uma simples trilha que começava no chamado Sítio dos Pires - propriedade que por volta de 1880 pertencia ao Negociante José Antônio Pires - na paragem então conhecida como Alto da Boa Vista (hoje Núcleo DER) e acabava na Estrada Velha do Mar, atual Av. Redenção, cortando também o sítio do carreiro João José da Silva.
No início do século XX, o sítio de João foi dividido e vendido. Três quinhões foram adquiridos respectivamente por Samuel Sabatini e Agenor Pedroso; Miguel Gobbi e Maria Adelaide Rossi. Esses proprietários, a partir da 2a. metade da década de 1920, começaram a planejar loteamentos em suas terras, aproveitando a Av. Senador Flaquer como eixo de ligação principal, sendo ela a única via comum entre os terrenos a serem retalhados.
O primeiro loteamento começou a sair de fato do papel foi o da Vila Euclides, de Miguel Gobbi, cujos lotes foram disponibilizados para venda a partir de 1933 (2). A ela, seguiu-se, na década de 1940 , parte da área de Maria Adelaide Rossi, à qual já em 1945 construía casas operárias avulsas na Senador Flaquer, de frente para o cemitério (3). Dois anos depois, ela começou a lotear uma área mais ampla, a Vila Maria Adelaide, englobando a rua de mesmo nome e adjacências (4). Em 1950 surgiu a Vila Anita, nas terras dos sucessores de Sabatini e Pedroso.
Um dos primeiros moradores da Av. Senador Fláquer foi Antonio Albanese, que ali chegou em 1935 (5), montando um bar perto em sua esquina com a Rua Miguel Arco e Flecha, depois comprado por Aristides de Almeida. Outro morador pioneiro foi Cyrillo Pelosini (6), já estabelecido no local em 1941,data em que pediu licença para trabalhar como encanador - possivelmente o primeiro da cidade.
Além do bar de Albanese, outros comércios logo surgiram na avenida, como os botequins de Orlando Albanez e Romildo Ceola em 1950-1, a padaria de Alcides Cardinalle, em 1952 e o armazém de Lívio Cardinalli, em 1954 (7). Em 1956, consolidando sua vocação comercial, a avenida foi designada para a realização da feira-livre da região, que acontece até os dias de hoje (8). Desde 1950, a Senador Fláquer já contava também, na esquina com a rua Santa Adelaide, com o Grupo Escolar Maria Adelaide, construído em área doada pela loteadora que empresta o nome à escola. Em 1963,esta escola seria transferida para o final da rua, na Vila Anita, e o antigo prédio transformado em Centro de Iniciação Profissional (atualmente ali funciona a EMEB Maria Adelaide Rossi)
Mesmo estabelecida, no fim dos anos 50, como principal via de comércios e serviços daqueles loteamentos, a avenida contava nessa época com um cenário contrastante em sua paisagem. Suas construções urbanas dividiam espaço com quarteirão ainda ocupados por pequenas chácaras, tanto em parte das áreas da Vila Euclides que ainda pertenciam aos Gobbi, quanto nas terras de Maria Adelaide. Esta mantinha uma plantação de flores em sua casa de campo defronte ao cemitério, que emendava-se com as terras da futura Chácara Inglesa, também sua propriedade (9).
Pouco mais de uma década depois, em meados dos anos 70, essas áreas verdes já haviam praticamente desaparecido, com a via assumindo um caráter definitivamente urbano. A essa altura , a prefeitura havia instalado na avenida um posto de puericultura e mais uma escola, a atual EMEB Padre Leonardo Nunes, esta em parte da antiga chácara de Maria Adelaide. Outros setores vizinhos remanescentes dessa propriedade, também já haviam sido loteados, dando origem ao Jardim Maria Adelaide (1967) e, atrás dele, a Chácara Inglesa (1971).
A partir dos anos 60, se instalaram na Senador Fláquer também algumas pequenas indústrias, como a Painco Industria e Comercio, na altura do atual nº 964 (hoje AMSS Indústria Mecânica) e a Transmetal, na altura do número 869 - local onde depois estiveram a Inbratextil Indústria e Comércio, a Dimaci Material Cirúrgico e atualmente o Supermercado “Do Bairro” (10).
Acima, o Grupo Escolar Maria Adelaide, em 1967, na altura do Nº 979; abaixo, o antigo CIP Maria Adelaide (atual EMEB Maria Adelaide Rossi),
em 1970, na altura do Nº 385 da avenida.
(2) - Il Pasquino Coloniale 18-11-1933
(3) - Processo PMSBC 786/45
(4) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 16-12-1948
(5) - Médici, Ademir. São Bernardo, Seus Bairros, Sua Gente. PMSBC. 1981.
(6) - Processo PMSBC 1971/41
(7) - Processo PMSBC 243/50, 1170/51 e 1060/52; Diário Oficial do Estado de SP, 21-06-1954
(8) - Decreto PMSBC, 134/57
(9) - Médici, Ademir. Ibidem.
(10) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 02-02-1966, 23-07-1981 e 27-10-2001
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