Mais do que seus contemporâneos Francisco Mariano Galvão Bueno e Alferes Francisco Martins Bonilha, Manoel Dias de Toledo foi o personagem histórico vinculado a São Bernardo que alcançou a maior projeção política em seu tempo.
 
Nascido em 1802 na cidade de Porto Feliz, ele pertencia por  linhagem materna aos Toledo Piza, tradicional ramo familiar paulista. Pouco se sabe de sua infância e juventude, sendo certo que em 1828, Toledo já estava  residindo em São Paulo, pois nessa época integrou a primeira turma da  recém criada Faculdade de Direito da cidade (1). Três anos depois se casou em São Bernardo, no oratório da fazenda de seu primo, Francisco Martins Bonilha, também pai da noiva, a Sra. Isabel Bonilha (2). Em 1832, ano de sua formatura na faculdade, nasceria em São Bernardo seu primeiro filho, Antonio de Toledo. Além dele, outros sete dos catorze filhos do casal  nasceram e foram  batizados em São Bernardo, até  o ano de 1845 (3) .
 
Além dos laços familiares, Martins teve laços políticos com Bonilha, ambos sendo correligionários no antigo partido liberal. Assim como o sogro, Toledo exerceu alguns cargos políticos durante sua vida, com a diferença que o bacharel conseguiu ocupar funções muito mais altas na estrutura de poder do império brasileiro, tendo alcançado em 1858 o status de conselheiro do Império (4).
 
Já logo após se formar, Toledo foi  eleito deputado imperial (em 1833) e, em 1836, governador nomeado  da província de Minas. Voltando para  São Paulo, elegeu-se  diversas vezes para a recém criada Assembleia Legislativa de São Paulo, exercendo  o cargo de deputado provincial por seis legislaturas, entre 1836 e 1847. A partir de 1836 também  se tornou professor da Faculdade de Direito de São Paulo,  na cadeira de direito criminal, ficando até sua aposentadoria, em 1870 (5). Depois,  foi ainda diretor da penitenciária de São Paulo até maio de  1874, quando faleceu.
 
Paralelamente a essas atividades políticas e acadêmicas, Dias de Toledo mantinha cinco propriedades rurais em São Bernardo, duas  no centro,  em sociedade com o sogro Bonilha  e três na região do atual Riacho Grande (uma na altura do Bairro Rio Pequeno, próximo ao Sítio das Caveiras; e duas  nas margens do Rio Grande) (6).  Numa das  propriedades do Rio Grande, Toledo cultivava “diversos cereais ", conforme apontou em 1862 o engenheiro responsável pela medição das terras (7). Nas terras que tinha com o sogro, eles mantinham uma plantação de chá  com 125 mil pés, e também uma fábrica do mesmo produto, considerada a maior da província (8). Em 1846, cerca de 40 escravos trabalhavam nela, que possuía 16 fornos para a torra do produto e com a capacidade de produção de 99 arrobas por dia, segundo um relatório do governo provincial da época.
 
O plantel de escravos de Toledo e Bonilha tinha origem principalmente africana, tendo sido vários deles trazidos após a Lei Feijó, de 7 de novembro de 1831, que pretendia proibir o tráfico de escravos para o país. Alguns dos escravos comprados pela dupla (em data posterior a 1844) acabariam fugindo, sendo descobertos anos depois na chácara de uma  liberta, situada no Bairro do Brás, em São Paulo (9). Os escravos, ajudados pelo advogado abolicionista Luiz Gama, justificaram, em seus depoimentos à justiça, a legitimidade de sua fuga alegando a ilegalidade da escravidão, por eles terem justamente vindo em data posterior à proibição do tráfico. Porém, possivelmente pela influência política de Toledo, o juiz do caso ignorou as alegações dos escravos e determinou a reintegração deles ao domínio de seus proprietários.
 
Na imagem: Manoel Dias de Toledo, em retrato publicado na Revista O Polichinelo de 10-09-1876
 
 
 
 
Notas: 
 
(1) - O Farol Paulistano, 18-11-1828
(2) - Registro de Matrimônios. Paróquia de São Bernardo. Arquivo da Cúria Diocesana.
(3) - Registros de Batismos. Paróquia de São Bernardo. Arquivo da Cúria Diocesana.
(4) - Almanaque Administrativo, mercantil e Industrial do comercial do Rio de Janeiro, 1858
(5) - idem , 1844 e Correio Paulistano, 04-10-1870
(6) - Registro de Terras de São Bernardo do Campo
(7) - Correio Paulistano, 30-05-1862
(8) - Silva Bruno, E. História e Tradições da Cidade de São Paulo. Vol.2
(9) - Mamigomian, B. To be a liberated African in Brazil: Labour and Citizenship in the Nineteenth Century. Waterloo University. 2002
 
 
 
 

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