Atualmente movimentada rota entre a zona central do bairro Rudge Ramos e o município de São Caetano, a Av. São João Batista situa-se num local que no início do séc. XX era divisa de três propriedades rurais que foram fracionadas em lotes urbanos em época diferentes. A avenida foi aberta como parte da chamada Vila Normandia, um dos primeiros loteamentos urbanos a vingarem no bairro, com seus terrenos já sendo comercializados na década de 40 (1). Possuindo uma área de 57 mil m2, está vila compreende os quarteirões formados pelo lado com numeração ímpar da São João Batista e e pelas ruas que fazem esquina com este lado, divisando com a estrada do Vergueiro a oeste, e com o Rio dos Meninos a leste. O loteamento foi um empreendimento do negociante José Salém e de seu filho, o químico Vidal. José era um turco com raízes judaicas que emigrara para o Brasil em 1910, se estabelecendo em Santos e depois em São Paulo (2).
Em 1952, ano em que a avenida recebia postes de iluminação da Light, diversas casas já existiam ou estavam em construção neste lado ímpar, como as de Armando Segatto, José Linhares,Francisco Bonício e Maria Linhares (3). Estas duas últimas casas foram construídas como residências operárias, bastante simples, possuindo originalmente apenas três aposentos. No lado oposto da via, fora do loteamento, havia uma olaria em terreno nas margens do Rio dos Meninos , pertencente à firma Brandão, Cimbre e Cia, onde moravam quatro famílias (4). E entre a Olaria e a Estrada do Vergueiro, ocupando grande parte do que hoje é o lado par da Avenida, estava a Chácara França, local de veraneio da família de Mauricio Jacquey, empresário francês, um dos donos da empresa Algodoeira Paulista (5), que vivia na Capital. Naquele ano, Jacquey aprovou na prefeitura a planta do loteamento de sua chácara, que se transformaria no que é hoje o lado par da São João Batista e também outras seis ruas vizinhas. Os terrenos do loteamento, chamado de Vila Helena, eram vendidos pelo corretor Indu Rovai, vereador entre 1955 e 1968, que montou seu escritório na esquina da São João Baptista com a Senador Vergueiro (atual Casas Bahia). Indu, era filho de Francisco Rovai, dono do Recreio Rancho Grande, famoso restaurante e hotel situado onde hoje está a Paróquia do bairro. Com a desapropriação da área em 1958 para a construção dessa igreja, Francisco e sua esposa Lea Vettori de Rovai instalaram o restaurante, já com o nome de Recanto do Chico, na altura do antigo n. 101 da avenida (6), junto à esquina com a Rua Londrina (onde no fim dos anos 70 seria construído o edifício Nenê Gomes) .
A instalação de estabelecimentos comerciais como esse restaurante ou mesmo indústrias como a Fábrica de Móveis Nossa Senhora Aparecida, são um indicativo do crescimento que a avenida teve nesses anos. Com efeito, o movimento na avenida aumentou, especialmente depois de 1955, quando o Grupo Escolar Otílio Oliveira se mudou da Vila Império para ocupar um quarteirão na avenida, já reservado para tal fim no plano de loteamento da Vila Helena. No início dos anos 60, com a rua pavimentada a paralelepípedos e a ponte sobre o Rio dos Meninos reformada, havia mais de 25 construções na avenida. E, ao longo dessa dessa década, a ocupação continuaria aumentando, de diferentes formas : no trecho final da via, na área da antiga olaria,seria construído o Residencial Samuel Gompers, com 17 edifícios, um dos primeiros grandes conjuntos residenciais da cidade, e na esquina com a Rua Londrina seria instalado a Indústria de Móveis Pollmark (7). Em 1970, os quarteirões até o cruzamento com a Rua Maurício Jacquey estavam tomados por construções; nos quarteirões além desta, restavam apenas 4 terrenos.
As décadas posteriores seriam marcadas pela verticalização, com a construção de alguns prédios, como o Edifício Nenê Gomes no fim dos anos 70 (no terreno onde estava o Recanto do Chico), e pela expansão do setor de comércio e serviços, especialmente a partir dos anos 90, acompanhando tendência notada também em outros pontos da cidade. Atualmente os pequenos e médios estabelecimentos comerciais são dominantes em vários de seus quarteirões, existindo mais de 60 ao longo do trajeto, ocupando com frequência terrenos e construções que outrora eram puramente residenciais.
Acima e no meio, vistas aéreas dos primeiros quarteirões da avenida (cortando de cima para baixo, em sentido diagonal) em 1967 e 2003 .
Abaixo, o Grupo Escolar Otílio de Oliveira em 1967.
Notas:
(1) Diário oficial do Estado de São Paulo, 06-11-1975.
(2) Revista Química Têxtil, 92/setembro 2008.
(3) Processos administrativos PMSBC 1074/50, 2079/52, 1650/52, 058/52, 588/52
(4) Diário Oficial do Estado de São Paulo, 31-05-1951
(5) Rudge Ramos Jornal, 14-02-2014. Médici, A. Resgate da Memória - São Bernardo, 200 anos depois. PMSBC, 2012.
(6) Diário Oficial do Estado de São Paulo 24 -11-1961
(7) idem, 27-12-1968
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