Desde pelo menos os primeiros anos do séc XX (1), as terras que hoje compõem a Vila Vivaldi (Rudge Ramos) faziam parte de um sítio pertencente a Agenor de Camargo, capitão  da guarda nacional,  nascido em Tietê-SP e radicado em Santo André, local onde se casou com Alzira Seabra, filha do Coronel Justiniano Seabra, este um dos donos  da famosa Tecelagem Ipiranguinha. Além de ter trabalhado na empresa do sogro, Agenor foi também  pecuarista, tendo sido um dos fornecedores de leite na região andreense (2).

Na década de 1920, a área de Agenor na margem esquerda do Rio dos Meninos foi loteada  em chácaras, sob o nome de Vila Camargo. O primeiro comprador foi o espanhol Miguel Moya, que em 1926 adquiriu um terreno nas proximidades onde hoje se encontra o atual Tênis Clube, ali se instalando (3). Outros compradores surgiram, como Antero Correia e Jorge Correia, com uma chácara onde mais tarde seria a Vila Dourados (4), e João de Campos, na altura da esquina da atual Rua Afonsina com a Rua São Paulo, local reloteado também com o nome de Vila Camargo. Mas a maior gleba acabaria vendida somente em 1948 por Agenor Camargo Filho (o pai havia falecido em 1932), pouco tempo depois dele ter utilizado o terreno para  explorar  argila (5). A compradora foi a Imobiliária Itaguassú, que logo lotearia  o espaço  sob  o nome de Vila Vivaldi, configurando o  mais extenso loteamento urbano realizado no bairro até hoje, com 637 mil m2 e mais de 2 mil lotes, assentado  entre a Av. Senador Vergueiro e o Ribeirão dos Meninos.

Apesar das precárias condições iniciais da vila - não havia ligações de água , esgoto e energia elétrica, a ocupação logo começaria: em 1950 registraram-se 16 alvarás de construção na vila, como os pedidos  por Elis Antunes, Luis Paduani, Arthur Borelli, Manoel Moreira José Erdeg Neto e Leopoldo Marzulli ( que solicitava a permissão para a construção de um salão na Rua Brasil)(6). A essa altura já havia um bar no loteamento, o “São José”, na Rua Santo Inácio, instalado em 1949 por José Faustinoni, local onde inclusive eram vendidos terrenos dos loteamentos (7). Tempos depois,  surgiria outro bar, pertencente  ao português Manoel Alexandre Pinto ,situado na rua Pirapitingui, onde eram também  realizados bailes (8). Na mesma rua ainda aparecia a primeira padaria, pertencente a Manoel Lindo, outro português (9).

O povoamento  expressivo  permitiu  que já em 1951 (10) se organizasse uma sociedade pró -melhoramentos da vila, presidida por José Maria Prestes, que foi sucedida em 1956 por uma Sociedade de Amigos do Bairro.  Através de reivindicação dos moradores conseguiu-se a extensão  da rede elétrica ao local em 1954.

Em 1957,a vila já contava com mais de uma centena de construções. A maior parte delas concentrava-se na   Av. Senador Vergueiro e adjacências, Rua Brasil e  Av. Vivaldi,  embora esta  última ainda não estivesse totalmente aberta e alinhada em toda sua extensão, faltando a conclusão de seus quarteirões mais ao sul. Em número menor, havia também  edificações próximas das margens do Rio dos Meninos,  zona historicamente  sujeitas a  inundações (11)

No ano seguinte, as vias do bairro começaram a ser pavimentadas, começando por trecho da Rua Tietê, que se tornaria uma das principais vias comerciais da vila. Nesse mesmo ano, com a participação intensa dos moradores locais, teve início  a construção da capela original de Santa Edwiges, que  foi concluída em 1960 (12).

Até  o início da  década de 1970, as redes de água,  esgoto e a pavimentação atingiriam a  totalidade das ruas do bairro.  Com asfalto estavam todas as vias entre a Av. Vergueiro e a linha de transmissão da Light ; já entre esta e o Rio dos Meninos, quase todas estavam com paralelepípedos - excetuando apenas parte das ruas Pirapitingui e  a Tietê, que também  estavam asfaltadas (13).  A vila  já possuía um  Posto de Cultura, inaugurado em 1966,e um grupo escolar, a  atual EMEB Viriato Correia. Em 1975, um outro estabelecimento de ensino, a atual E.E. Amadeo Oliverio, foi inaugurado na Rua Itaúna.

Com a melhora na infra-estrutura local, ainda que certos problemas, como o das enchentes, persistissem, o povoamento se expandiu, restando no início da década de 1980 poucos terrenos disponíveis.

No início dos anos 90, a vila seria impactada com a construção do anel viário metropolitano e consequente prolongamento da Avenida Lions, que atravessando toda a vila causou a desapropriação de  diversas construções  e obstruiu a passagem em algumas vias, como as ruas Itaguassú, Brasília, Tietê e Tibiriçá.

Apesar de tudo, boa parte das casas dos primeiros anos  se mantém de pé na Vila, que permanece  com suas características majoritariamente  residenciais. O processo de verticalização,  ocorrido em vários pontos da cidade nas últimas décadas, atingiu relativamente  menos a área, à exceção do setor mais próximo da Av. Senador Vergueiro, onde concentram-se a maioria dos prédios locais.

 

 


Nas fotos vemos a Igreja Santa Edwiges, um dos principais pontos de referência da Vila Vivaldi,  em 1966, 1986 e em 2022

 


Notas:


(1) - Contreras Castilho, José. Os Meninos do Guapiú: História do Bairro Rudge Ramos, Vila Vivaldi e arredores.
(2) - Medici, Ademir. Pecuária em Santo  André. Coluna Memória, DGABC, 17-08-2000
(3) - Contreras Castilho, José. op. cit.
(4) - idem
(5) - Decreto Federal 14502, 13-01-1944.
(6) - Processos PMSBC/1950 - Alvarás de Construção.
(7) - Contreras Castilho, José.  op.cit
(8) - A Vanguarda, 07-12-1959
(9) - Contreras Castilho, José. op. cit.
(10) - Folha do Povo, 19-10-1951.
(11) - Levantamento Aerofotogramétrico 1957. PMSBC
(12) - Contreras Castilho, José. op.cit.

 

 

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