Resenha do livro “O céu dos suicidas”
“Até o suicídio do meu grande amigo André, nunca tive vontade de voltar atrás de nada”
(O céu dos suicidas, Ricardo Lísias).
O livro escolhido deste mês para leitura no Clube de Leitores é a obra “O céu dos suicidas” do escritor brasileiro Ricardo Lísias. O tema de nossa programação é o setembro amarelo, mês de prevenção ao suicídio, e o livro selecionado dialoga com esta temática.
O céu dos suicidas, lançado em 2012, é um romance do escritor Ricardo Lísias, que estreou na literatura em 1999, sendo finalista do prêmio Jabuti em 2008 e ganhador do prêmio São Paulo de Literatura em 2010. Lísias é um dos grandes nomes que representam a produção literária contemporânea brasileira.
O romance narra a história de um jovem especialista em coleções chamado Ricardo que tem sua vida completamente alterada após o suicídio de seu melhor amigo, André. Um misto de sentimentos tomam conta do narrador, ansiedade, culpa, nostalgia, e ele compartilha essa série de estados mentais e comportamentais com o leitor.
“Tanta autoindulgência está me incomodando. Até o suicídio do meu grande amigo André, nunca tive vontade de voltar atrás de nada. Agora, comecei a sentir saudades de tudo”
Através de uma escrita fluída, com capítulos curtos, nem por isso menos densos, a narrativa de Lísias alterna e entrelaça momentos de dor, sofrimento, culpa, ironia e comicidade, e esse mosaico de sensações e impressões do mundo formam e dão o forte peso dramático desta obra.
“Todo dia, vou para a cama com medo de ter insônia. Consigo até perceber os meus batimentos cardíacos sem fazer nenhuma concentração. Deito-me, cubro todo o corpo, fico imóvel no escuro e meu coração dispara, com medo de não dormir”
O tema suicídio, que tem centralidade no livro, não é um assunto de fácil trato, tem suas complexidades que envolvem uma série de dimensões do ser humano, e essa busca por respostas e ao mesmo tentar entender as razões que levaram o amigo André a tal ato, e o que Ricardo poderia ter feito pelo amigo para tentar mudar desfecho tão trágico, são vocalizados pelo narrador da história.
“Resolvo ir embora e no portão do cemitério dou-me conta de que não havia nenhum tipo de trabalho religioso no enterro. Foi um suicídio. Os suicidas sofrem. Deus desgraçado”.
O romance de Ricardo Lísias, traz um narrador que tenta seguir em frente, mas olhando para trás, recuperando lembranças do amigo André, para compreender a decisão tão definitiva do querido amigo, e sua impotência e suas possíveis negligências nessa relação.
“Uma coleção é como um amigo: é preciso saber tudo. Quem tem uma grande amizade sabe que, mesmo que estejamos longe dela, uma lembrança sempre retorna”.
Para o professor da Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro, o narrador criado por Lísias "lembra um caçador sonolento que tentasse acertar o alvo no meio da noite, lutando para que seus olhos não se fechem. Mas o caçador (que corre atrás do sentido) é vencido sucessivas vezes pelo cansaço e pelo desespero, entregando-se impotente ao mundo dos loucos e dos delirantes: momento em que o sujeito não consegue fechar os ouvidos ao grito agonizante do que o cerca."