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Aqui falaremos um pouco sobre Dança Circular como Metodologia Integrativa da Educação Ambiental e de Promoção da Cultura de Paz na nossa cidade. Em São Bernardo do Campo temos um projeto, do qual vamos falar mais adiante, chamado "Dançando a Natureza e Celebrando a Vida", promovido pela Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal. Este projeto que integra as ações da Ecoescola Aberta, junto a outras atividades, projetos e ações. 

 

Mas primeiro, vamos entender melhor do que se trata a Dança Circular?

 

O que são as Danças Circulares e como surgiram?

As Danças Circulares como as praticamos hoje, surgiram a partir de um resgate da cultura dos povos realizado pelo bailarino e coreógrafo alemão/polonês Bernhard Wosien, ainda nos anos 1970, na Escócia. Resgatando muito mais do que simples passos, Bernhard trouxe a simbologia sagrada de cada tradição e a essência da dança de roda, que é celebrar a vida. Ao apresentar seus estudos na Comunidade de Findhorn, estas danças foram acolhidas e passaram a ser reproduzidas e anotadas por residentes desta comunidade intencional, que contribuíram muito com sua divulgação. Findhorn é uma comunidade que se desenvolveu e se sustenta por meio de práticas econômica e socialmente sustentáveis, pautadas no respeito à Natureza e na Cultura de Paz. É considerada uma Eco Vila Modelo de Sustentabilidade pela UNESCO nos dias de hoje. Nas danças, observamos um sentido de irmandade, alegria, celebração e partilha, que se espalharam por diversos lugares do mundo desde a ancestralidade humana, sendo a partir dos estudos de Bernhard, associadas também às danças contemporâneas e incorporadas ao repertório hoje conhecido como Danças Circulares Sagradas, Danças Circulares dos Povos ou somente Danças Circulares. Nas danças, o sagrado está relacionado à presença e à conexão.

Imagem extraída de: RENTE, Angélica. Uma breve história das danças circulares sagradas (2013).

Contudo, não podemos esquecer que as Danças em roda estão presentes na cultura de diversos povos ancestrais. Há inclusive um grande número de pinturas rupestres, encontradas em sítios arqueológicos, que ilustram celebrações e movimentos de dança em roda que ocorriam para celebrações aos Deuses e em momentos como colheita, mudança de estação climática, para invocar a luz do sol ou as chuvas, nascimentos, casamentos e outros ritos de passagem. Ou seja, as Danças Circulares fazem parte da vida humana desde a ancestralidade, antes mesmo da invenção da escrita, como uma forma de expressão e de celebração. E assim, as danças passaram a ser usadas também como uma oportunidade de reunião das comunidades.

Como as Danças Circulares chegaram ao Brasil?

 

No Brasil, as Danças Circulares chegaram em 1980 através do mineiro Carlos Solano, que fez treinamento em Findhorn, durante seis meses, após conhecer a comunidade que tinha se tornado referência em economia e arquitetura sustentável. Solano tornou-se o primeiro focalizador do Brasil, trazendo sua experiência para as terras mineiras. Ao mesmo tempo, em São Paulo, na cidade de Nazaré Paulista, formou-se a comunidade Centro de Vivências Nazaré (atual UNILUZ). Trigueirinho, fundador do centro, ao visitar Findhorn, convidou a canadense Sara Marriiot, que vivia na comunidade escocesa, para que viesse ao Brasil. Sara acabou mudando-se para o país e trouxe consigo diversos conhecimentos adquiridos em Findhorn, entre eles, as Danças Circulares. Ainda que todo esse processo tenha acontecido e mereça todo o destaque, é essencial lembrarmos que em nossa cultura popular já eram praticadas diversas Danças de Roda, tanto adaptadas e iniciadas a partir da tradição e danças folclóricas que se desdobraram da cultura dos povos que imigraram para cá, quanto as Danças Indígenas, dos Povos Originários do Brasil, em suas mais variadas etnias. E estas danças e povos podem ser honrados e revividos na Dança Circular. Em pouco tempo, as danças ficaram conhecidas no Brasil e foram associadas a outras metodologias como Jogos Cooperativos, uma vez que seu potencial de união foi muito rapidamente observado e incorporado às mais diversas áreas.

Foto de encontro do Projeto Dançando a Natureza e Celebrando a vida - Fonte: PMSBC, SMA, 2019

Preciso saber dançar para participar?

 

Anna Barton, uma das mais importantes referências da Dança Circular em Findhorn e no mundo, costumava dizer que "cada um é capaz de dar alguma coisa para ajudar o grupo que nenhum outro pode." E que mesmo que você tenha "dois pés esquerdos, você pode dançar!" Seja jovem ou idoso.

Há um provérbio africano, bastante citado nas rodas de dança circular: "Se você pode andar, você pode dançar. Se você pode falar, você pode cantar!". Todos são bem vindos!

Indicada para qualquer idade, o principal propósito da Dança Circular não é a técnica, mas cuidar e respeitar o espaço e o tempo de cada um, criando um sentimento de união de grupo, de pertencimento, acolhimento, conexão consigo e com o próximo a partir do momento em que todos, de mãos dadas, apoiam e auxiliam os companheiros. Os movimentos são geralmente fáceis de fazer, e não exigem grandes esforços físicos na maiorida das danças. Limitações de movimento e restrições podem ser acolhidas, incluidas e respeitadas. Á medida que todos aprendem as danças e se movimentam em sincronia, o equilíbrio e a harmonia tornam todo movimento mais leve e orgânico.

Quais os símbolos e significados existentes nas danças?

 

Nas danças, existem várias simbologias. O Centro da Roda representa o Centro de Si mesmo em conexão com o Centro do Universo, nossa referência comum, nosso ponto de equilíbrio, fonte da nossa energia. Quando dançamos, nos conectamos ao céu e à terra por meio de nosso eixo vertical, da planta dos pés e do topo da cabeça. As palmas das mãos, voltadas uma para cima e outra para baixo, sendo a direita para cima e a esquerda para baixo, representam o Receber e o Dar, criando uma grande corrente de conexão entre os dançantes da roda. Todos tomamos o formato da cruz, sendo ao mesmo tempo o eixo de nós mesmos e o centro entre o dançante da direita e o da esquerda. Nas danças, o eixo horizontal, representa o tempo, e o eixo vertical, o espaço.

Os passos, estão também relacionados ao local de surgimento da coreografia, da dança. Os padrões de movimento podem ter relação com a topografia do lugar. Áreas planas, permitem passos mais largos, áreas muito inclinadas, como as danças das regiões de montanha, provavelmente terão passos mais curtos e mais balanços no lugar. Além disso, os passos podem ter relação com movimentos como os encontrados na Natureza, por exemplo, o movimento dos raios do sol e das fases da lua. Cada movimento, traz em si, um significado pensado e criado pelo coreógrafo.

No círculo, todos estamos à mesma distância do centro, temos um mesmo centro visual comum e podemos ser vistos, de modo que todos somos igualmente importantes. A direção da dança, no sentido anti-horário, para o leste, para a nossa direita, representa o caminho em direção ao nascer do sol, de onde vem a luz. Todo ponto representa o princípio e o recomeço na roda, percorremos um processo de transformação.

Quais os benefícios das Danças Circulares?

 

A Dança Circular pode ter uma função terapêutica, de cuidar do indivíduo e do grupo. O movimento também pode ser parte de um processo curativo para o ser humano, sendo considerada uma meditação em movimento, quando a presença plena e integral é necessária e natural. Porém, a dança é uma atividade diferente de uma terapia, mas sim, um apoio ao processo terapêutico. Também se trata de uma atividade que suplanta os conceitos de educação para o movimento ou educação física. Pois seu aspecto coletivo, que propõe a autopercepção e a percepção do grupo, de seus movimentos e ações, cria uma atmosfera que reproduz uma pequena versão de um sistema maior, a própria sociedade, repleta de complexidades, movimentos e conflitos. Por todos estes benefícios, da Dança Circular foi incluída no hall das Práticas Integrativas e Complementares na Saúde, as PICS, conforme Portaria 849/2017 do Ministério da Saúde. Na dança, o aprendizado é presencial, vivencial, eminentemente prático. Por isso, é possível orientar o grupo no percurso do objetivo maior proposto no projeto, uma vez que diversos aspectos podem ser abordados na dança.

 

"A dança reúne, cura, inclui, unifica, ensina, emociona, transcende. É uma parte essencial da Nova Era. Sua influência pode se expandir e ajudar a transformar o mundo"  (Anna Barton)

 

 

Qual é a relação da Dança Circular com a Educação Ambiental?

 

Os valores abordados na Dança Circular se enquadram nas ações e práticas educativas da Educação Ambiental não-formal definidos pela Política Municipal de Educação Ambiental. Além disso, também estão incorporados na A3P (Agenda Ambiental na Administração Pública), do Ministério do Meio Ambiente e se alinham diretamente com os princípios da Carta da Terra. A dança circular é considerada uma metodologia integrativa da Educação Ambiental. Buscando um bem comum, que não é só o bem do ser humano, mas o respeito a todas as formas de vida na Terra e a todos os Recursos Naturais que sustentam nossa própria vida e a vida na Terra, como a água, o ar, o solo, a energia solar. Todos os elementos que convivem com os Seres Humanos numa grande comunidade de vida, revisando as formas como lidamos com os aspectos socioambientais. Questionando um pouco mais sobre como fazemos uso dessa Natureza da qual fazemos parte e que, na verdade, somos nós. Uma Natureza cada dia está mais impactada, degradada e em processo de esgotamento.

Desenvolvendo níveis de consciência e de convivência – intrapessoal, interpessoal e sistêmico, a Dança Circular promove um ambiente de cooperação, ética, respeito, fraternidade, amorosidade, harmonia. Os participantes, cooperando entre si, como nosso próprio corpo e órgãos cooperam entre si, cada um com o seu papel, com a sua função, dentro da sua capacidade, ganham a oportunidade de desenvolver e fortalecer diversos valores positivos para a consciência coletiva: Quem é o outro para cada um de nós? Um adversário? Como estou agindo em relação ao outro?

Dessa maneira, a dança segue no caminho da Cultura de Paz, promove reflexões vivenciais e estimula emoções saudáveis e a conexão entre os participantes, com a ampliação de sua consciência coletiva, estimulando uma mudança que se inicia de dentro para fora. Nosso mundo interno, reflete o mundo que construímos lá fora. O que o mundo é depende de quem o vê, depende de quem vive nele. Assim como “a prática é o critério da verdade” (Vladimir Lenin), a prática pela dança é uma oportunidade de experimentar a transformação necessária para mudar aquilo que é nosso, mas também aquilo que é sistêmico, ou seja, aquilo que está em nosso interior se reflete nas nossas relações e no que está fora de nós. Na dança, é necessário “escutar” o movimento do outro. Observar para poder prosseguir, estabelecendo uma relação de confiança e harmonia com o grupo. Para realizar essa mudança de consciência, é preciso mergulhar fundo nos aspectos invisíveis de nós mesmos e nas relações humanas.

 

Foto de encontro do Projeto Dançando a Natureza e Celebrando a vida - Fonte: PMSBC, SMA, 2019

Dançar nos Transforma...

Assim, as danças circulares levam a uma vivência de totalidade, de cooperação, harmonia, bem-estar, facilitando o contato e a conexão entre as pessoas, utilizando-se de sons e movimentos que muitas vezes recriam aqueles que podem ser observados na Natureza. Em um curto espaço de tempo é possível trabalhar questões como:

  • Autopercepção e reflexão sobre as ações individuais;
  • Percepção do coletivo e do respeito aos demais;
  • Percepção das diferenças e possibilidades de adaptação;
  • Aumento da concentração e atenção;
  • Contato com diversas culturas e respeito aos povos e ambientes diversificados;
  • Cooperação ao invés de competitividade;
  • Troca de vivências e sabedorias – respeito ao indivíduo e afetividade;
  • Reflexão e conexão com os elementos da Natureza.
 
A Dança Circular, seria então, uma excelente opção para o cuidado com a saúde e as relações, desenvolvendo o autoconhecimento, a presença, a coordenação motora e muitas outras competências. Um caminho na direção de uma vida mais saudável, pautada em competências de convivência coletiva e no respeito aos Povos e à Natureza.
 

"Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos pode mudar o mundo; de fato, é a única maneira disto acontecer"  (Margaret Mead)

 

Convidamos você a conhecer o nosso projeto: Dançando a Natureza e Celebrando a Vida!

Clique na imagem abaixo para saber mais! 

 

 

 

Danças dos Povos - A Dança e o Círculo, na História, na matriz do Povo Brasileiro. A chegada das DCS

Canal - Vaneri de Oliveira - Documentário da TV Senado, produzido em 2005.

 

O que são as Danças Circulares Sagradas? (com Renata Ramos)

Canal - Consciência Próspera - 2017

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARTON, Anna. Dançando o Caminho Sagrado. Organização: Renata C. L. Ramos. Tradução: Márcia  Schubert. São Paulo, TRIOM, 2012. 88p. Volume I. 

BARTON, Anna. Espírito da dança. Tradução: Renata C. L. Ramos. 2ed.. São Paulo, TRIOM, 2004. Volumes I e II. 

BOLEN, Jean Shinoda. O milionésimo círculo: como transformar nós mesmos e ao mundo: um guia para círculos de mulheres. Tradução: Elisabetta Recine. São Paulo, TRIOM, 2003, 118p.

GOMES, Estela Maria Guidi Pereira; PAULA, Samuel Souza de. Danças Circulares e Sabedoria dos Povos. Apostila. Universidade de Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ). 27p. sem data.

GOMES, E.M.G.P. Danças Circulares como metodologia integrativa. INOJOSA, R.M. (org). Aprendizagem socioambiental em livre percurso: a experiência da UMAPAZ. São Paulo: Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, 2012. cap 13 p.181-192. (disponível em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/livro_-_aprendizagem_socioambienta_em_livre_percurso_-_v12_-_web_1355257931.pdf. Acessado em 5/07/2020.

GOMES, E.M.G.P. Dançando e convivendo nos Parques Públicos de São Paulo. INOJOSA, R.M. (org). Aprendizagem socioambiental em livre percurso: a experiência da UMAPAZ. São Paulo: Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, 2012. cap 14, p.193-202. ((disponível em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/livro_-_aprendizagem_socioambienta_em_livre_percurso_-_v12_-_web_1355257931.pdf. Acessado em 5/07/2020.

MENEZES, Cristiana. “Dança Circular: Meditação em Movimento”. Disponível em: https://www.cristianamenezes.com.br/danca-circular/ Acessado em 29/06/2020.

OSSONA, Paulina. A Educação pela Dança. Tradução: Norberto Abreu e Silva Neto. 6. Ed. São Paulo, Summus, 2011

TOLENTINO, Patrícia. “O que são as Danças Circulares?”, 2017. Disponível em: http://dancascirculares.com.br/o-que-sao-dancas-circulares/. Acessado em 29/06/2020.

WOSIEN, Bernhard. Dança: um caminho para a totalidade. Edição: Marie Gabriele Wosien; Tradução de Maria Leonor Rodenbach e Raphael de Haro Júnior. São Paulo: TRIOM, 2000. 157p.