"Ao escrever, dou conta da minha ancestralidade; do caminho de volta, do meu lugar no mundo".
(Daniel Munduruku)
A Literatura de autoria indígena ou Literatura nativa tornou-se um fenômeno cultural e um movimento literário a partir da década de 1990. As décadas anteriores foram marcadas pela ausência de edições publicadas de autores nativos, com raríssimas exceções, ficando clara a condição de esquecimento e invisibilidade desses povos originários, de suas narrativas e de sua história.
Com a Constituição de 1988, o seu artigo 210, que reconheceu o direito indígena à educação em suas línguas maternas e à utilização de processos próprios de aprendizagem, fez surgir uma produção escrita de autoria coletiva para dar conta dessas demandas educacionais. No mesmo contexto, a produção literária de cunho individual também ganhou corpo, de caráter criador e mobilizador. Autores como Kaká Werá e Daniel Munduruku foram precursores dessa produção escrita, assentada nas tradições e na história de seus povos.
As principais características que marcam o texto produzido pelos autores indígenas são as narrativas cosmológicas e de visões de mundo das etnias, a integração entre o ser humano e a Natureza como algo uno, a ancestralidade e as suas simbologias. A escrita é permeada pela oralidade, pela sabedoria dos mais velhos, guardiões da memória e da identidade de seu povo. Garantia da perenidade e conservação de seu universo social e cultural.
A edição e publicação da Literatura Indígena tornou-se um instrumento importante para a difusão das vozes desses povos, principalmente para a sociedade envolvente, apartada de tais manifestações. Coloca pautas e fazeres das etnias na esfera pública, suscitando debates e o reconhecimento de sua cultura, de seus direitos constitucionais e da preservação de suas memórias.
A Literatura Indígena não envolve apenas técnicas de escrita, mas compreende também sentimento, pertencimento, memória, identidade e resistência, um fenômeno cultural e político importante.
Por fim, a Literatura dos autores indígenas nos traz uma cultura duradoura, viva e criadora, de um grande livro que vem sendo escrito e reescrito há gerações. Cultura que também se manifesta por outras linguagens artísticas, como a dança, a artesania, a pintura, a música e até mesmo a produção audiovisual, mas isso é assunto para outra postagem.
Fonte:
Dorrico, Julia. Literatura Brasileira Contemporânea Indígena. Criação, Crítica e Recepção. Porto Alegre, RS, 2018.
Vídeos Youtube:
A Literatura Indígena: Conhecendo Outros Brasis - Julie Dorrico
https://www.youtube.com/watch?v=gKVOXmuEbwU
Literatura Indígena - Entrevista com Daniel Munduruku - Canal Futura
https://www.youtube.com/watch?v=WZjfVX1pH5g
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