“O livro é uma mistura incrível. Tem tudo lá dentro, crítica, teoria,psicologia e até romance: sou eu”. (Mário de Andrade)

        Amar, verbo intransitivo, publicado em 1927, foi o primeiro romance do escritor Mário de Andrade.

       A obra é narrada em terceira pessoa e tem como temática central, a iniciação sexual do jovem Carlos Alberto, filho de uma tradicional família paulistana, por uma imigrante alemã chamada Elza, que é contratada por Felisberto Sousa Costa, o patriarca da família. Admitida como governanta e professora, Elza passa ser chamada de Fräulen, e tinha como ofício iniciar sexualmente os jovens burgueses da tradicional sociedade paulistana.

     A preocupação de Felisberto, pai de Carlos, é que o jovem tivesse uma primeira relação sexual segura e tranquila, em condições controladas, que na sua visão garantiriam ao rapaz uma vida saudável, sem vícios e libertinagens.

“Laura, Fräulein tem o meu consentimento. Você sabe: hoje esses mocinhos… é tão perigoso! Podem cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade… é uma invasão de aventureiras agora! Como nunca teve!. Como nunca teve, Laura… Depois isso de principiar… é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial evita muitas coisas. E viciadas! Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-da-vida que não seja eterônoma, usam morfina… E os moços imitam! Depois as doenças! Você vive em sua casa, não sabe, é um horror! Em pouco tempo Carlos estava sifilítico e outras coisas horríveis, um perdido!”.

       O idílio que se segue à trama, como o próprio autor o chama, é marcado por uma série de desdobramentos na relação entre Fräulen e o jovem Carlos, atos de sedução e conquista.  Fraülen e Carlos passaram a se relacionar intensamente, objetivando parte do intento do patriarca Felisberto.

 

“O amor deve nascer de correspondências, de excelências interiores. Espirituais, pensava. Os dois se sentem bem juntos. A vida se aproxima. Repartem-na, pois quatro ombros podem mais que dois”.

    O que se segue são as descobertas de Carlos, sentimentos de amor e paixão, nutridos por sua preceptora, sentidos que conduzirão essa prosa, seu desenrolar e seu desfecho.

    Por tratar deste tema, o romance tem um caráter transgressor à sua época, e sintetiza em parte o espírito modernista daquele momento, questionador da forma e conteúdo estético da produção literária de até então.

     

      

       O narrador, durante a narrativa da trama, faz uma série de reflexões e digressões sobre o gênero romance, a língua portuguesa, a construção de seus personagense até mesmo especula quanto leitores leriam sua obra, ora tornando-se uma personagem da própria história. Uma inovação na forma de narrar uma história romanceada.

“Se este livro conta cinquenta e um leitores sucede que nesse lugar de leitura já existem cinquenta e uma Elzas. É bem desagradável, mas logo depois da primeira cena, cada um tinha a Fräulen dele na imaginação”.