Cantora que obteve destaque no cenário nacional a partir dos anos 70, Célia Regina Cruz nasceu em São Paulo, em 1947, mas com três dias de idade veio  para São Bernardo (1). Seus pais eram  o funcionário da Light Eduardo Cruz e a dona de casa Ilka Cruz, ambos cariocas, mas que na década de 1940 vieram viver na cidade. Em São Bernardo, Célia passaria sua infância e parte da juventude morando primeiramente na Rua Pedro Setti e depois na Rua Municipal. Estudou no Colégio São José, onde cursou o ginásio e o  Instituto de Educação João Ramalho ,onde fez o colegial, então duas das principais escolas da cidade (2).
 
A aproximação de Célia com a música iniciou-se com o estudo de piano, mas ao 12 anos foi influenciada por uma amiga que estudava violão (Anna Maria Romano Pelosini) a também aprender este instrumento, pelo qual se apaixonou. Teve aulas de violão com Maria Lívia San Marcos, Paulinho Nogueira e a compositora Elodi Barontini,  que a incentivou a cantar (3).
 
Em maio de 1969, quando vivia de dar aulas de violão  para outros jovens da cidade (tinha cerca de 70 alunos),   foi convidada para cantar e tocar com seus alunos, representando São Bernardo numa prova do  programa “Cidade contra Cidade”, apresentado por Silvio Santos na Tv Tupi (4). Embora os jurados tenham  preferido  a performance feita por por Guarulhos,(um coral), a apresentação de Célia repercutiu bem  na cidade. Pouco tempo depois, Odette Bellinghausen, então  colunista de arte do Jornal Folha de S. Bernardo (editado por Tito Lima, cunhado e incentivador de Célia), afirmou: ”Foi preciso acontecer aquela inesquecível noite no Cidade contra Cidade para a nossa modesta violeta se tornar conhecida e demonstrar seu grande mérito” (5). Nessa época,  Célia  e seus alunos também já faziam apresentações beneficentes realizada no auditório do Colégio São José (6).
 
O grande impulso em sua carreira viria, contudo, no ano seguinte, quando, com a intermediação de um amiga de São Bernardo, encontrou-se com  o empresário musical Waldomiro Saad  e o maestro uruguaio Pocho Peres, que impressionado com  sua voz,  ofereceu-lhe um contrato com a gravadora Continental (7). Aceitando a proposta, ela viajou para o Rio de Janeiro, onde contatou compositores  como Joyce, Lô e Márcio Borges e Ivan Lins para construção do repertório do disco, que foi produzido pelo próprio Pocho Peres. Após retornar do Rio, se apresentou  por intermediação do célebre produtor Fernando Faro, no programa de Flávio Cavalcanti, na Tv Tupi, onde foi fartamente elogiada pelo júri. Cantou, por sugestão de Faro, “Adeus Batucada”, um antigo sucesso de Carmen Miranda, canção que também foi incluída no LP, lançado pouco tempo depois. O álbum foi muito bem recebido pela crítica,  levando  Célia a ganhar o troféu  Roquette Pinto como revelação do ano.
Até 1982 , a cantora lançou  pela Continental outros quatro discos,  todos chamados apenas de “Célia”, à exceção do último, batizado de “Amor”. São marcados por um repertório muito diversificado, com gravações que vão  de  Tom Jobim  a Benito de Paula, passando por Roberto Carlos e Ataulfo Alves. 
 
A carreira da cantora também alcançaria o exterior, a partir de 1971, com a participação do Festival Mundial  Onda Nueva, em Caracas,na Venezuela, onde cantou “Carrossel” , de Elodi, Vera Brasil e Maria Eugênia. Em 1974, foi premiada como melhor intérprete no festival Costa a Costa em Piriapolis, Uruguai, ao qual se seguiu uma temporada de shows em Punta del Este com o compositor e violonista Toquinho (8). Além dos shows no exterior, seus  LPs  de 1972 e 1975  foram  lançados à época  na Argentina,  e em 1974 um compacto com a gravação de “Detalhes”, também incluída no segundo LP, foi lançado em Angola e Portugal (9).
 
Após o LP “Meu Caro” , lançado  em 1983 pelo Selo Pointer, de seu amigo José Maurício Machline, Célia faria apenas um único álbum com gravações inéditas até o ano 2000 ( Louca de Saudade, de 1993); embora continuasse a fazer temporadas quase anuais de shows, especialmente em São Paulo.
 
A partir do cd  “Fugir da Saudade”, de 2000, onde interpretou, juntamente com José Luzi Maziotti , canções de Paulinho da Viola, a cantora retomou a produção de álbuns com maior periodicidade. Um dos que tiveram  maior repercussão foi “Célia, O lado Oculto das Canções” , editado pela Som Livre, que teve a faixa “Canção Uma Vida Inteira” incluída na trilha sonora de uma telenovela da Rede Globo.
 
O último CD gravado pela cantora foi “Aquilo que a Gente Diz”, de 2015, onde mesclou canções de compositores da nova geração com as de veteranos.
 
Em setembro de 2017, após passar mais de um mês internada, Célia faleceria aos 70 anos, em São Paulo, vítima de câncer.
 
Mesmo após sua morte, porém, o interesse por sua música persistiu e até se expandiu internacionalmente: em 2018-9,  o selo britânico Mr. Bongo  reeditou na Inglaterra , em Vinil e Cd,  seus dois primeiros álbuns, sendo que o segundo, também teve versões no Japão e Estados Unidos (10). Já em 2020, após a canção “Opaul”, do rapper canandense Freddie Dred, que utiliza um sampler  de “Davi”  (faixa do primeiro álbum de Célia), viralizar em um vídeo da rede social tiktok, o interesse pela cantora e pela antiga canção  cresceu repentinamente, levando  esta a ter mais de um milhão de visualizações somente no youtube. Além de “Davi”, “Na Boca do Sol”, do segundo álbum  da cantora, também despertou interesse internacional, com partes dela sendo sampleadas em 5 composições diferentes por djs e rappers dos Estados Unidos e Alemanha (11).
 
Célia em foto publicada na Revista Expressão, em dezembro de 1970.
 
 
 
 
Notas:
 
(1) - Labrada, G. Memória Musical de São Bernardo. PMSBC, 1987
(2) - Andrade, C. Célia - Entre o Mundo e a Voz. Imprensa Oficial. GESP. 2013.
(3) - Idem  e A Vanguarda 24-04-1977
(4) - Folha de São Bernardo, 02-04-1969
(5) - Idem, 07-06-1969
(6) - Idem 21-06-1969
(7) - Andrade, C.  Op. cit.
(8) - Labrada, G.  Op.cit.
(9) - CF. site Discogs - artista Célia
(10) - Idem
(11) - Site whosampled.com - Célia
 
 
 

 

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