Pouco tempo após o fim da Segunda Guerra Mundial, entre o final do ano de 1945 e o início de 1946, a indústria automobilística norte-americana preparava-se para retomar plenamente suas atividades habituais, após anos de paralização devido aos esforços de guerra. O mercado americano era dominado pelo chamado “Big Three”, conjunto das três maiores empresas do setor, composto por GM, Ford e Chrysler . Quase todo o restante do mercado era dividido entre outras cinco grandes empresas (Hudson, Nash, Packard, Studebaker, e Willys-Overland) (1). O Brasil, com uma demanda por automóveis importados que que crescia ano a ano, apresentava-se como um campo promissor para a expansão das vendas da indústria automotiva norte-americana. De fato, neste momento, a Ford (São Paulo) e a GM (São Caetano do sul) anunciaram ampliações de suas instalações no país. É neste contexto histórico que se insere o primeiro capítulo da história da indústria automobilística em São Bernardo do Campo. Assim, em janeiro de 1946, a Chrysler anunciou a construção de uma linha de montagem para seus produtos no município, através de sua recém fundada representante brasileira, a Cia. Distribuidora Brasmotor, conduzida pelo boliviano Miguel Etchenique (2). Em setembro do mesmo ano, o industrial armênio radicado em São Paulo, proprietário do Lanifício Varam, Varam Keutenedjan, anunciou que sua distribuidora de veículos Nash - fundada em dezembro de 1945, a Varam Motores,  adquirira um terreno às margens da Via Anchieta, onde construiria uma linha de montagem para os automóveis da empresa norte-americana. Considerada a melhor rodovia da América Latina, a Via Anchieta estava na fase final de sua construção, e foi o grande fator de atração para que estas empresas – e todo o futuro parque industrial automobilístico são-bernardense – se instalasse no local. As anunciadas linhas de montagem entraram em funcionamento apenas no final da década e em breve adicionaram outras marcas e produtos às suas atividades. A Brasmotor iniciaria a montagem do Volkswagen Fusca em 1951 e passaria também a fabricar geladeiras e outros eletrodomésticos, empreendimento este que, posteriormente (1956), daria origem à Brastemp, que funcionaria por várias décadas nas mesmas instalações construídas a partir de 1946, abandonando, desta maneira, as atividades de montagem de automóveis.  Além dos carros e caminhões Nash, a Varam passaria a montar também veículos da italiana FIAT, tratores agrícolas Ferguson (1950), e o jipe rural Nissan Patrol (1955) (3). Em 1954, a Nash se fundiria com a também norte-americana Hudson, dando origem à AMC (American Motors Corporation) e, posteriormente, deixando de existir como marca industrial.  Algum tempo depois, em 1958, as instalações da Varam Motores em S.B.C seriam vendidas à francesa Simca, a qual iniciaria a fabricação – e não apenas montagem - de automóveis de passeio no local, sobretudo o Chambord, modelo mais célebre da empresa. Em 1967, a Simca seria absorvida pela Chrysler, que ali fabricaria diretamente seus automóveis até 1978, quando, enfrentando graves problemas financeiros, vendeu suas instalações à Volkswagen. As duas montadoras causaram um impacto significativo no mercado de trabalho industrial da cidade já em 1950, quando empregavam, somadas, 749 funcionários (4), diversificando o perfil das oportunidades profissionais nas fábricas do município, que há décadas era marcado pela presença quase exclusiva de marceneiros e tecelãs.  Imagens: Acima - > O complexo industrial da Brasmotor/Brastemp. O prédio cinza, à esquerda é o edifício original da Brasmotor, o prédio laranja, com a logomarca Brastemp, foi construído posteriormente. Década de 70. Abaixo - > Instalações da Varam Motores, à beira da Via Anchieta. Década de 50. Acervo: IBGE.

Notas:

(1) – Cf. Binder, Alan K., Rae, John Bell. Automotive Industry. Encyclopedia Britannica online (www.britannica.com/technology/automotive-industry).  Em 1929, o “Big Three” detinha 75% do mercado.  

(2) - Cf. Revista Automóveis e Acessórios. Janeiro, 1946. p. 6. O terreno adquirido pela Brasmotor possuía 96.000 m² e se localizava no atual nº 2.785 da Rua Marechal Deodoro, muito próximo ao Km 22 da Via Anchieta.

(3) – Cf. Jornal Folha da Manhã, 15 de janeiro de 1955, cad. único. p. 5.

(4) – Cf. Anuário Estatístico do Estado de São Paulo. Vol III. 1950. Situação Econômica. Departamento de Estatística do Estado de São Paulo, 1954.  p. 60

 

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