No final do século XIX, a área do atual Bairro dos Finco, no Riacho Grande, correspondia a cerca de 50 dos 83 lotes rurais da linha colonial do Rio Grande, instalada em 1887, que abrigou diversas famílias de imigrantes estrangeiros. Entre essas famílias estava aquela que batizaria o bairro: os Finco, que chegaram oriundos de Treviso - Itália, ocupando quatro lotes, posses que seriam expandidas posteriomente. Nessa época, os colonos da área já praticavam em suas terras atividades agropecuárias bastante diversificadas: a família Finco, por exemplo, plantava abacaxi, uva, repolho, abóbora, batata, cana, milho, amendoim, feijão, mandioca e cana e ainda criavam bois, porcos e aves (1). Outros produtores vizinhos, como os Viezzer e os Zaia, tinham diversificação similar em seus lotes. Despontavam também as atividades relacionadas ao carvão e à madeira, que marcariam todo o Riacho Grande por décadas: ainda no final do séc. XIX, o patriarca Francisco Finco montaria ali um engenho de serra movido pela força hidráulica das águas do Rio Grande, que depois seria transformado em uma serraria a vapor por seu filho Fortunato. Este abriria ainda uma fábrica de cadeiras em suas propriedades, que duraria até pouco depois de sua morte, ocorrida em 1936.
O extrativismo vegetal foi por décadas uma atividade importante para os moradores locais. Pela Estrada do Rio Acima, que corta o bairro, passavam muitos veículos transportando madeira e carvão, a serem levados para as zonas de consumo. Em depoimento dado ao Centro de Memória em 2006, contou o antigo morador do Riacho Grande e barqueiro Quirino Vicentin: “No armazém da minha mãe (na Rua Angela Gionotto, adjacente à estrada, perto da Vila Rio Grande), a turma vinha com carretão de boi, carro de boi, carro de burro, traziam carvão, traziam madeira e descarregavam tudo ali. Dali o pessoal de São Bernardo vinha carregava e levava para São Bernardo, Santo André." Posteriomente o próprio Vicentin trabalharia com o transporte de madeira, via embarcação, carregando na região do Taquecetuba, Bororé e Curucutu.
A partir da década de 1950, a configuração do espaço do Bairro dos Finco, que já havia sofrido grandes modificações com a construção da Represa Billings (1927-1935) e a inundação de parte considerável de seus sítios e caminhos, voltou a ter fortes mudanças. Novos loteamentos, como o Recreio Rancho Alegre e a 1ª fase da Vila Praia Grande, foram lançados, fracionando velhos lotes remanescentes da linha colonial em pequenos sítios e chácaras ideais para veraneio. Boa parte destes foram adquiridos por uma população não residente no bairro, mas que acessava-o facilmente após a disseminação do automóvel e a construção da Via Anchieta. A vocação local direcionada ao lazer e ao turismo se manifestaria ainda com a instalação de diversos clubes recreativos nos Finco, como o Hawai, o Clube de Campo Riacho Grande, o Tozan e o Esporte Clube Sultan Yacoub (da comunidade islâmica). Também apareceriam no bairro alguns loteamentos de características urbanas, como os jardins Tupã e Icaraí, com lotes menores, impulsionando o crescimento da população. Em 1980, o Bairro dos Finco foi incluído dentro do perímetro ubano da cidade (2). Dez anos depois sua população era de 5,7 mil habitantes, número que já havia quase dobrado no último censo de 2010 (10,1 mil).
Nas imagens vemos acima Fortunato Finco, a esposa Luiza Viezzer e família em sua residência, no ano de 1927, e abaixo imagem aérea do Jardim Tupã, parte do antigo lote 21 da linha Rio Grande, no Bairro dos Finco, em 2003.
Notas:
(1) Livro Auxiliar de Recenseamento, 1900. Acervo do Arquivo do Estado de São Paulo.
(2) Lei n.º 2435/1980.
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