Surgido numa época de grande expansão dos clubes de lazer na cidade, o Clube de Campo Rosa Mística, no bairro Batistini, foi um dos que mais marcaram a memória das gerações que usufruíram de seu espaço em algum momento. Sua criação se deu por iniciativa do Círculo Operário do Ipiranga, entidade assistencial capitaneada pelo Padre Pedro Balint (1901-1984), romeno que emigrara para o Brasil em 1929, quando se estabeleceu como coadjutor da Paróquia de São José, no Ipiranga. Em 1936, com objetivo de assistir aos trabalhadores do bairro e de seus arredores, o padre fundou o Círculo Operário do Ipiranga (1). A entidade ao longo do anos ampliou muito suas ações, criando, até ao fim dos anos 50, um hospital (Leão XIII), uma Escola (Cardeal Motta) e uma colônia de férias (em Itanhaém). No início da década de 60, dando prosseguimento à essa expansão, o Padre Balint idealizou um segundo núcleo de lazer para o Círculo, núcleo este que viria a se tornar o Clube de Campo Rosa Mística. Para tal fim, a instituição adquiriu em 1962 uma área de 10 alqueires junto à Avenida Ângelo Demarchi e à Represa Billings, na margem direita do Ribeirão do Soldado (2). O terreno em questão era composto pelos antigos lotes 31 e 32 da linha Galvão Bueno do Núcleo Colonial de São Bernardo - glebas que nos anos iniciais da linha (fins do séc. XIX) haviam pertencido respectivamente às famílias de Bento Dias e Amélia Fernandes e de Mateus e Maria Servidei Demarchi (Ângelo Demarchi, que dá nome à estrada local, era filho do casal) (3).
Nessas terras, o Círculo Operário construiu inicialmente campo de futebol, quadras poliesportivas, campo de bocha, restaurante, churrasqueiras, salão de festas, playground, e instalações para pic-nic. Em 1966, o local já estava em funcionamento, porém ainda sem seu complexo de piscinas: as quatro primeiras só seriam inauguradas em 19 de novembro de 1967 (4). Nesses primeiros tempos, o acesso ao clube era muito dificultado pela falta de condições da Av. Ângelo Demarchi, então muito estreita, com apenas quatro metros de largura e não pavimentada. No ano de 1968, uma reportagem do jornal Folha de São Bernardo apontou que a avenida, quando chovia, transformava-se em “lamaçal e, na seca, em densa nuvem de poeira” (5). Apesar de tal problema, o clube já contava com cerca de 3 mil associados, sendo 400 deles moradores de São Bernardo, público formado por “gente simples e trabalhadores”, na descrição do jornal. O clube também era aberto a não-sócios, mediante pagamento de taxa.
Em meados de 1971 , em almoço com a diretoria do Círculo, o então prefeito Aldino Pinotti, reconhecendo a contribuição para o turismo no município trazida pelo Rosa Mística, prometera a pavimentação da avenida, que só foi realizada de fato partir do início de 1973, tendo sido inaugurada no aniversário da cidade daquele ano (6). Com a facilitação de acesso, o clube expandiu seu número de sócios (que por volta de 1993 chegaria à marca de 5 mil associados) e também suas instalações, inclusive com a construção no final dos anos 70 de mais duas novas piscinas e da Capela São Pedro (7).
Tal como outros clubes recreativos que tiveram grande expressão, como o Clube da Volks, Aranamy/Comodoro Country Club, Clube da Ford, o Rosa Mística viveu sua fase áurea nas décadas de 70 e 80. Não escapou da decadência sofrida por vários de seus contemporâneos, especialmente a partir do fim dos anos 90, quando os clubes tiveram que disputar atenção com outros espaços de prática esportiva e lazer oferecido por academias, parques públicos e mesmos os equipamentos esportivos de prédios de condomínios fechados em expansão, fenômeno também ocorrido em outras regiões do país. Assim, em 2008, 8 anos após mudar de nome para São Camilo (quando os religiosos camilianos assumiram a gestão do antigo Círculo Operário do Ipiranga), o clube foi desativado. A área fora então levada a leilão, sendo adquirida por uma construtora de Santo André (8).

Nas imagens, vemos acima duas piscinas do clube em fevereiro de 1968. O complexo de piscinas do clube seria reformado e ampliado no fim dos anos 70. Abaixo, vemos a fachada da secretaria do Rosa Mística, em 1986, durante cerimônia que inaugurava a iluminação noturna da Av. Angelo Demarchi.
Notas:
(1) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 12-10-1976
(2) - Idem, 17-06-1978
(3) - Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo (1877-1898).
(4) - Folha de São Bernardo, 12-11-1967.
(5) - Idem, 07-04-1968
(6) - A Tribuna, 11-07-1971; Cidade de Santos, 01-08-1973.
(7) - Diário Oficial do estado de São Paulo, 01-08-1994 e 17-06-1978.
(8) - Diário do Grande ABC, 17-06-2013.
Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo
Alameda Glória, 197, Centro
Telefone: 4125-5577
E-mail: memoria.cultura@saobernardo.sp.gov.br
Veja esta e outras histórias da cidade no portal da Cultura:
https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/cultura/tbt-da-cultura