Introduzida pelos portugueses, as festas dos santos de junho (Santo Antônio, São Pedro, e São João) estão secularmente presentes no Brasil e também em São Paulo, juntando-se no passado a outros festejos outrora tão ou mais populares, como as festas do Divino, do Corpo de Deus, de São Sebastião,de Santa Isabel e do Anjo Custódio (protetor de Portugal).

Em registros da imprensa paulista de meados do séc XIX já é possível ver descrições de festas juninas com várias de suas características: as festas nas propriedades rurais, como uma noite de São João ocorrida em 1865 em Botucatu-SP, que reuniu cerca de 300 pessoas diante de “enorme fogueira”, “onde bateu-se o cateretê” e dançou-se “quadrilhas francesas” (1); ou notícias sobre a “inundação de buscapés” em São Paulo durante o mês (como dizia um editorial do jornal Correio Paulistano em 1867) (2), desafiando a lei que proibia seu uso desde pelo menos de 1834 (3), e causando muito incidentes.

No contexto de São Bernardo, uma das primeiras referências a essas festas está no código de posturas de 1911, que proibia “salvas com armas de fogos ou morteiros”, excetuando nos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro”, desde que fora da zona urbana (4). Com efeito, os festejos juninos eram comuns tanto nos sítios de antigas famílias brasileiras, como os Pires e os Oliveira Lima, como mesmo nas colônias dos imigrantes italianos, que logo aderiram às festividades, uma vez que os mesmos santos eram também venerados em suas províncias de origem. Alguns memorialistas de famílias imigrantes, como Atilio Pessotti (1918-1993) deixaram registradas suas impressões sobre as festas nesse tempo: “Lembro-me da festa que tio Pedro realizava anualmente em honra a seu santo padroeiro, na noite de São Pedro. Naquele tempo, o dia do santo (...) era feriado e o povo, embora operário, podia passar a noite da véspera na festança. Convidados, lá chegávamos após percorrer uns dois quilômetros entre as roças. Às primeiras horas daquele festivo anoitecer, viam-se clarões de pequenas fogueiras, cantigas e gritarias alegres por toda a parte”(5) . Outro antigo morador, Mário Stangorlini, também abordou o tema em suas memórias: “ começava-se acendendo uma grande fogueira lá pelas 20hs e, depois , familiares e convidados rezavam um terço em louvor ao santo do dia. Ao final da prece iniciavam-se os festejos, soltando-se fogos de artifício e balões. Não podia faltar o quentão (...) nem tampouco comidas típicas como batata doce assada, pipoca, canjica e amendoim. Realizava-se um baile com um gramofone, ou, melhor ainda, um sanfoneiro tocando até o sol raiar. Uma das famílias que sempre fazia festa era a do Giovanni Cestari” (6).

Além dos festejos na zona rural, também já se realizavam no início do século quermesses tanto na paróquia da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Boa Viagem, quanto nas capelas de Rudge Ramos do Bairro dos Casa, estas dedicadas a São João e Santo Antônio respectivamente.

As transformações urbanas vividas pela cidade na 2ª metade do século XX levaram os festejos juninos a alcançar os novos espaços que surgiam, atingindo os clubes locais e a quase totalidade das dezenas de escolas criadas no período. Nos clubes, tornaram-se parte do calendário de eventos anuais, com alguns deles organizando grupos de quadrilhas - nesta seara, o grupo da Sociedade Recreativa e Cultural Alameda Glória, da Vila Duzzi, ficaria famoso a partir do fim dos anos 1950, chegando a se apresentar até mesmo em programas de tv (7). Da mesma forma, tanto nos jardins da infância como nas escolas de ensino fundamental, as festas juninas se integraram à rotina, com os próprios alunos preparando os enfeites com bandeirolas e trazendo prendas para as celebrações. Nos anos 60 e 70, chegaram a ocorrer concursos de quadrilhas durante as festas, envolvendo vários grupos escolares.

Se as festas na zona rural rarearam com a progressiva urbanização dos antigos sítios, por outro lado, as quermesses se estenderam naturalmente a cada nova paróquia criadas nas muitas vilas nascidas nos antigos terrenos rurais. E a população que chegava à cidade, oriunda de diversos cantos do país, trazia consigo o legado das festas de seus locais de origem, garantindo a continuidade da tradição.

 

Nas imagens, dança de quadrilhas nas festas do Grupo Escolar Dr. Baeta Neves e

na Sociedade Recreativa e Cultural Alameda Glória, na Vila Duzzi. 1969.

 

 

Notas:

(1) - Diário de São Paulo 09-08-1865
(2) - Correio Paulistano 16-06-1867
(3) - O Novo Farol Paulistano 28-01-1834
(4) - O Progresso,02-07-1911
(5) - Pessotti, Atilio . Vila de São Bernardo, 2005.
(6) - Stangorlini, Mário. As Colônias do Bairro Assunção. 1997.
(7) - DGABC, 21-06-2014

 

 

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